ATA DA DÉCIMA SEXTA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 27.06.1997.
Aos vinte e sete dias do mês de junho do ano de mil novecentos e noventa e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e vinte e dois minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Integração de Porto Alegre ao Senhor Iñigo de Palácio Espana, nos termos da Resolução nº 18/97 (Processo nº 1661/97), de autoria da Mesa Diretora. Compuseram a MESA: o Vereador Clovis Ilgenfritz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor José Eduardo Utzig, Secretário Municipal de Captação de Recursos, representando o Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Carlos Furtado, representando o Senhor Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul; o Coronel Dorival Ari Bogoni, representando o Comando Militar do Sul; o Major Flávio Amorim, representando o Comando da Brigada Militar; o Cônsul-Geral da Alemanha, Senhor Axel Gutmann; o Cônsul-Geral da Espanha, Senhor Iñigo de Palácio España, Homenageado; a Senhora Sonsoles Cano de Palácio, esposa do Homenageado; o Vereador Paulo Brum, 1º Secretário da Casa. Também, como extensão da Mesa, o Senhor Presidente registrou as presenças do Senhor Ivan José Moro Gardenas, Vice-Cônsul da Espanha; da Professora Iliane Melet, representando a Secretaria Estadual da Educação; do Poeta Joaquim Moncks, Vice-Presidente da Academia Literária Gaúcha; do Senhor Francisco Polola, Cônsul Geral da República da Argentina; dos Senhores José Goetter e Wolf Gang, representando a Assessoria Internacional da Universidade do Vale dos Sinos; do Senhor Jorge Sarriero, representando a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; da Senhora Eva Sopher, Presidente da Fundação Teatro São Pedro; do ex-Vereador Wilton Araújo. Ainda, registrou o recebimento de correspondência alusiva ao evento da Senhora Elisa Verinha Alves, do Deputado Federal Mendes Ribeiro Filho, do Deputado Estadual Paulo Vidal e do Secretário Estadual César Schirmer. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução dos Hinos Nacionais Espanhol e Brasileiro e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Antonio Hohlfeldt, em nome da Mesa Diretora e das Bancadas do PPB, PPS, PDT, PSB e PMDB, salientando a justeza da presente homenagem, discorreu acerca da importância do trabalho realizado pelo Senhor Iñigo de Palácio España no sentido de fortalecer os laços de amizade entre Brasil e Espanha. A Vereadora Maria do Rosário, em nome da Bancada do PT, lendo trecho do livro "As Cidades Invisíveis", de Ítalo Calvino, destacou a importância da união dos povos para que se consiga alcançar a verdadeira transformação da sociedade mundial, agradecendo ao Senhor Iñigo de Palácio España por sua atuação como representante do Estado Espanhol em Porto Alegre. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, teceu considerações acerca da presença ativa do Cônsul e da Consulesa da Espanha junto à comunidade porto-alegrense, presença essa sempre marcada pelo incentivo ao desenvolvimento intelectual e artístico e pela busca de boas relações entre a Espanha e o Brasil. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, lembrou contatos que manteve com o Homenageado quando o mesmo assumiu o cargo de Cônsul da Espanha em Porto Alegre, salientando a priorização por ele dada à busca da cooperação nas áreas cultural, econômica e comercial. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra à Senhora Jane Pimentel que recitou a poesia "Pátria Minha", de Vinícios de Moraes. Após, o Senhor Washington Goulart interpretou as músicas "Fantasia Flamenca de Malageña", de Lecuona, e Sevilhana "del Adios". Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, assistirem à entrega, por Sua Excelência e pelo Secretário José Eduardo Utzig, do Título de Cidadão Integração de Porto Alegre ao Senhor Iñigo de Palácio España e, após, concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense e, agradecendo a presença de todos, declarou encerrada a presente Sessão às dezesseis horas e quarenta e nove minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima segunda-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Clovis Ilgenfritz e secretariados pelo Vereador Paulo Brum. Do que eu, Paulo Brum, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada por mim e pelo Senhor Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Queremos cumprimentar a
todos os senhores e senhoras ao darmos início à 16ª Sessão Solene.
Temos a grande
satisfação, a honra e o prazer de estar dirigindo esta Sessão, na condição de
Presidente da Casa, que é destinada à entrega do título honorífico de Cidadão
Integração de Porto Alegre ao Sr. Iñigo de Palácio Espana - Cônsul da Espanha.
Muito nos honra a sua presença, acompanhado por sua esposa, Sra. Sonsoles Cano de Palácio os quais convidamos a integrar à
Mesa.
Estamos muito
satisfeitos por este ter sido processo
de proposição da Mesa Diretora da Casa. Temos que registrar que teve um autor intelectual, que muito
colaborou para isso - o Ver. Antonio Hohlfeldt. A proposta terminou sendo da
Mesa e aprovada pela unanimidade da Casa.
Nós estamos compondo
a Mesa com o nosso homenageado o Cônsul Geral da Espanha Sr. Iñigo de Palácio
Espana, o Exmº. Secretário Municipal de Captação de Recursos Eduardo Utzig,
nesta ocasião representando o Prefeito de Porto Alegre; o representante do
Vice-Governador do Estado Dr. Carlos Furtado; o representante do Comando
Militar do Sul Coronel Dorival Ari Bogoni; o representante da Brigada Militar,
Major Flávio Amorim; a Sra. Consulesa Sansoles Cano de Palácio; e o
Cônsul-Geral da Alemanha, Sr. Axel Gutmann.
Convidamos a
todos para, em pé, ouvirmos o Hino da Espanha e, logo a seguir, o Hino Nacional
Brasileiro.
(São executados
o Hino da Espanha e o Hino Nacional Brasileiro.)
Registramos a
presença dos Vereadores João Dib, Cláudio Sebenelo, Maria do Rosário, Antonio
Hohlfeldt, Antônio Losada, Adeli Sell, e o ex-vereador Wilton Araújo.
Convidamos o
Ver. Antonio Hohlfeldt para usar a palavra, em nome da Mesa Diretora, embora o
Vereador não seja componente da Mesa.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores (Saúda os componentes da Mesa) Quero, Sr. Presidente, antes de mais
nada, agradecer pessoalmente a V.Exa. e aos demais companheiros da Mesa esta deferência e dizer que esta data que
foi antecipadamente acertada, por questões de agenda de todos nós, tem a coincidência
de também festejar os 139 anos de existência do Teatro São Pedro. E eu quero
falar, sobretudo, se me permitem todos, à sombra da imagem sempre brilhante de
Carlos Reverbel, falecido nesta madrugada. É um homem que mais do que
representar a cultura do Rio Grande do Sul nos dá, de certa maneira, o mote
desse discurso na homenagem ao Dr. Iñigo.
Parece que
existem três motivações básicas para que alguém possa sair do seu País natal.
Uma delas é o exílio e é triste, mas é uma experiência de espanhóis e
brasileiros ao longo de sua história. A outra é o passeio, o turismo e ela é
gostosa, é simpática, mas não deixa de ser egoísta, porque ela é individual, é
particular, é pessoal E existe uma terceira que é exatamente aquela que trouxe o Sr. Iñigo de Palácio de Espana ao Brasil
e, especialmente a Porto Alegre, a disponibilidade de servir e representar sua
pátria junto a outros povos.
Nessa condição,
contudo, encontramos aquelas representações burocráticas, formais, que se
colocam à sombra da representação, mas encontramos, por outro lado, aqueles que
não apenas representam sua pátria, mas acabam, de fato, integrando-se,
envolvendo-se e identificando-se com a pátria a qual chegam. Esse é o caso de
nosso homenageado.
Não vou aqui
traçar ou recordar dados biográficos do Dr. Iñigo de Palácio Espana, este homem natural de Madrid,
formado em Direito pela Universidade de Computense com uma folha de serviços
admirável a serviço de seu País.
Quero
relembrar, eventualmente, algumas das coisas que ele nos deixa como herança e
como marca do seu trabalho aqui, desde que chegou a Porto Alegre, em 1993. Na
área econômico-financeira, renovando e reativando relações entre Espanha/Brasil
e muito especialmente no Rio Grande do Sul. Na área cultural, deixando
sobretudo a presença da literatura
espanhola, através das Feiras do Livro, desde a presença do Prêmio Nobel de
Espanha, Camilo Seva, até a magnífica exposição dos livros de Garcia Lorca, no
ano passado. E não adianto o outubro vindouro, porque deixo que ele próprio fale
disso na sua oração próxima.
Quero chamar a
atenção para o fato de que esta homenagem, antes de qualquer coisa, se deve a um simpatizante, como me dizia o Jesus Iglesias e o Ricardo há
pouco, do Movimento Vivo Guaíba e da SAPA - Sociedade de Amigos de Porto Alegre
-, mas é sobretudo a ratificação de uma feliz sorte que a cidade de Porto
Alegre tem tido ao longo dos anos. Boa parte daqueles que chegam a esta Cidade
em representação diplomática ou na direção dos institutos culturais que aqui
têm sede - e não é pela presença do Dr. Axel Gutmann, mas quero lembrar, aqui,
a importância que, em anos anteriores, teve o Instituto Göethe, o Centro
Hispânico de Cultura, ligado à PUC, e tantas outras instituições, essas pessoas
acabam, de fato, trazendo uma contribuição fantástica à nossa Cidade. E, por
isso, algumas delas têm sido homenageadas por esta Casa.
Quero,
sobretudo, lembrar que, segundo velhos tratados, não é de todo inusitado que o
Cônsul de Espanha esteja sendo homenageado em Porto Alegre, afinal essas eram
terras de Espanha, segundo o Séc. XV e a bênção do Papa. Que depois a história
tenha sido mudada, que Portugal diplomaticamente, às vezes guerreiramente,
tenha ocupado espaços, que o território do Rio Grande e a, hoje, República
Oriental do Uruguai tenham sido espaços de disputa, inclusive de grandes
batalhas. São coisas que, certamente, honram Portugual, Espanha, Brasil, e
muito especialmente, o Rio Grande do Sul. O Rio Grande do Sul tem uma raiz
espanhola e isso ninguém de nós pode
negar. Lembro aqui Manoelito de Ornellas e toda a influência que deixou,
inclusive na figura do gaúcho, esse homem às vezes solitário, a cavalo, de
grandes horizontes, que é valente - e por isso mesmo se chamava
"gaúcho" - e que marcou a paisagem, não só do Rio Grande, através da
fronteira seca, como de todo o Pampa, a
Argentina e o Uruguai.
Portanto, o que nós hoje entregamos ao Cônsul
Iñigo Espana, em nome de Portugal é algo que, de certo modo, lhe pertence, que
é, exatamente, a relação entre esta região e a Espanha.
Queria, Sr.
Presidente, nesta representação da Mesa, agradecer também ao Jesus Iglesias,
que foi quem na verdade, como bom articulador e provocador começou a pensar
esta idéia da homenagem ao Cônsul de Espanha. Numa bela tarde, acompanhado do
Ver. Cláudio Sebenelo chegou no nosso gabinete e de lá fomos ao gabinete do
Ver. Clovis Ilgenfritz, que de imediato comprou a idéia maluca: tínhamos que
inventar uma maneira de homenagear o Dr. Iñigo Espana. Como não havia maneira
formal, pois àquelas alturas todos nós já tínhamos definido as nossas agendas,
nossas pautas, começamos a fazer uma bela discussão da qual participou todo um segmento da Casa, e descobrimos que, até pela presença clara
do Mercosul e da vontade que Porto Alegre tem de ser a referência do Mercosul,
estava na hora de criarmos um prêmio, um título de reconhecimento muito
específico. E ninguém melhor do que esse Cônsul, representante da Espanha para
inaugurar esse Título de Cidadão Integração, que foi a denominação final que
definimos para esse novo prêmio que a Câmara entrega, hoje, pela primeira vez.
Por vezes,
lemos na mídia que a Câmara tem excesso de homenagens. Acho que isso nem entra
em discussão, porque a presença dos Senhores aqui mostra que a homenagem não é
inusitada. E se alguém merece o
reconhecimento de Porto Alegre, através desta Casa e representa todo os
segmentos, é exatamente Iñigo de Palácio Espana, o homem que não apenas
representou o seu País, como acabou também nos representando, a nós do Rio
Grande, basta ver o conjunto de atividades culturais que vem propiciando a esta
Cidade, sobretudo uma coisa que poucas vezes vimos através de representação
consular: a interiorização.
Tenho certeza,
Dr. Iñigo, e hoje se fazem presentes as Cidades de Passo Fundo, Santa Maria,
Cruz Alta, e Pelotas, se não
fisicamente ao menos em espírito nesta homenagem, porque se V. Exa. recebe um
Prêmio de Porto Alegre, este Prêmio
certamente também fala pelo Rio Grande do Sul e por suas Cidades.
Quero agradecer
a Jane Pimentel, poeta; o Washington Duarte, nosso violonista, especialista em
música flamenga: à Maricarmen Rodrigues do Consulado, a Ana Lúcia, funcionária
do nosso gabinete, toda dedicação no preparo desta homenagem e, também, o
carinho, porque eu acho que para o Dr. Iñigo será importante, quando longe estiver em terras mais frias,
ou mais quentes do que Porto Alegre ,
que ele não apenas ouça os seus filhos falarem o português de Porto Alegre, e
do Rio Grande do Sul, mas que possa, de vez enquando, estender um olhar para
esta Cidade Sorriso, e assim, de vez enquando, como nostalgia bastante forte,
resolva marcar na sua agenda um retorno a esta Cidade que, a partir de hoje, é
também sua através deste prêmio o Título Cidadão Integração.
Dr. Iñigo,
obrigado por aceitar a nossa homenagem, obrigado pelo seu carinho pela nossa
Cidade e , sobretudo, obrigado pelo Senhor levar também a imagem de Porto
Alegre adiante, porque sobretudo é esse o encargo que o Senhor recebe hoje com
esta homenagem: ser também o Cônsul, o Embaixador da Cidade de Porto Alegre
no mundo. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A Mesa endossa as palavras do Ver. Antônio
Hohlfeldt, dizendo que a nossa Câmara não tem motivos para se preocupar pelo
número de homenageados. Feliz a cidade que têm pessoas para homenagear, como
nós. Isso é muito bom, só quem tem a quem homenagear faz isso. Por isso nós
achamos que não há problema. O recado também vai para a nossa grande imprensa.
Eu queria
considerar como extensão da Mesa: Vice-cônsul da Espanha, Ivan José Moro
Gardenas; a representante da Secretaria Estadual de Educação Profa. Iliane Melet; nosso já citado
Jesus Iglessias: Cônsul Honorário da
Suécia Sr. Mário Sigfried Vandgraf; Presidente do Conselho de Residentes
Espanhóis Sr. Juan Félix Garcez; do Vice-Presidente da Academia Literária Gaúcha, Dr. Joaquim
Moncks; do Cônsul Geral da República da Argentina Sr. Francisco Polola; dos
representantes da Assessoria Internacional da Unisinos, Sr. José Göetter e Sr. Wolf
Gang; do representante da PUC Sr. Jorge
Sarriero. Recebemos telegramas da Sra. Elisa Verinha R. Alves; do Presidente da
Mantenedora da Instituição Educacional São Judas Tadeu, do Dep. Federal Mendes
Ribeiro Filho, na chefia da Casa Civil do Governo do Estado e do Secretário Estadual de Agricultura e Abastecimento o
Dep. Sr. César Schirmer.
O Ver. Antonio
Hohlfeldt não falou só pela Mesa falou, também, pelo PPB, pelo PPS, pelo PDT,
pelo PSB e pelo PMDB.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra a Vera. Maria do Rosário em
nome da Bancada do PT.
A SRA. MARIA
DO ROSÁRIO:
(Saúda os componentes da Mesa.)Neste momento falamos em nome da nossa Cidade de
Porto Alegre e para toda a Cidade. Sem dúvida que é uma alegria muito grande e
uma honra para nós termos constituído este título honorífico de Cidadão Integração
e, na primeira edição deste título, podermos entregar juntos, por uma decisão
unânime da Câmara Municipal de Porto Alegre, ao Cônsul-Geral da Espanha Sr.
Iñigo de Palácio Espana. Acredito - e falo em nome da Bancada do Partido dos
Trabalhadores - que a sua contribuição à nossa Cidade está marcada e ficará
marcada por longa data, na integração com a nação espanhola, na cultura, na
economia, na área financeira, em todas as áreas e, de modo muito especial,
entre os nossos povos. Nós somos os representantes dos nossos povos. O Senhor,
com a sua disposição, o trabalho permanente da Consulesa ao seu lado, trouxe
para nós muito da nação espanhola, e também da nossa Cidade de Porto Alegre, do
Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e, especialmente, da nossa gente, porque
uma cidade não são seus espaços físicos, mas de um modo especial às suas
pessoas. Leva também daqui o muito da
honradez, da forma destemida que o nosso povo gaúcho tem, em especial, a nossa
gente porto-alegrense, que nos orgulhamos de representar.
Destaquei, para
que pudesse me ajudar nesta fala, um breve texto do Ítalo Calvino em que ele
diz, em uma conversa entre Marco Pólo e o Grande Can, no Livro "As Cidades
Invisíveis": "Uma cidade é igual a um sonho, tudo que pode ser
imaginado pode ser sonhado, mas mesmo o mais inesperado dos sonhos é um
quebra-cabeça, que esconde um desejo, ou então o seu oposto, um medo. As
cidades como os sonhos são construídas por desejos e por medos, ainda que o fio
condutor do seu discurso seja secreto. As cidades também acreditam ser obra da mente, ou do acaso,
mas nem um nem outro basta para sustentar as suas muralhas, os seus prédios. De
uma cidade não aproveitamos às suas 7 ou 77 maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas.”
Gostaria que o
Senhor levasse da nossa Cidade as nossas maravilhas: o nosso rio Guaíba, o
nosso por-do-sol, o nosso Teatro São Pedro, o nosso Palácio Piratini, a nossa
Câmara Municipal, modesta, mas trabalhadora. Mas quero que de um modo especial
o Senhor leve de todos, nesta homenagem, o rosto da nossa gente, a nossa
determinação, a nossa profunda amizade com o povo espanhol e o nosso
desejo de que nesta época em que nos
preparamos para um novo milênio consigamos nos transformar numa grande
humanidade que supere as contradições, que mantenha a cultura e que reconheça
na diferença o que ela tem de poderosa e de maravilhosa, mas que apresente essa
diferença para todos os povos nunca como algo menor para qualquer um deste
globo terrestre.
Portanto, saiba
o Senhor da nossa alegria de que o seu nome seja o primeiro a receber este
título de Cidadão Integração, porque sabemos que esta palavra “integração”
combina com o seu trabalho, com o seu nome e também com o desejo da nossa
Cidade. Muito obrigada. (Palmas).
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Queremos também considerar como extensão da
Mesa a presença da senhora Eva Sopher, Presidente da Fundação Teatro São Pedro.
Recebemos, neste momento, um ofício do Dep. Paulo Vidal, Líder do PSDB na
Assembléia Legislativa.
Passamos a palavra
ao Ver. Cláudio Sebenelo, que fala pelo PSDB.
O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Senhor Presidente, antes vou
pedir licença para registrar os 139 anos do Teatro São Pedro, a presença da
nossa queridíssima Eva Sopher, e dizer que esta Câmara amou, ama e amará para
sempre Jacques Cousteau, e que Carlos Reverbel não foi embora, está aqui
conosco. (Saúda os presentes.)
A desvantagem
de falar pela segunda, ou terceira vaga nos leva a ter que endossar esse
magnífico discurso do Ver. Antônio Hohlfedt e este trecho feliz da Vera. Maria
do Rosário, que realmente mostram o
nível desta Casa, e o nível de consideração que esta Casa tem com os
homenageados de hoje, O Presidente Clovis Ilgenfritz, num momento tão feliz
aprovou, junto com a unanimidade desta Casa, a entrega desse prêmio a
indiscutivelmente uma das pessoas mais destacadas da nossa sociedade e que
conosco convive por um tempo tão pequeno.
Desde seus
primeiros passos em nossa Cidade, percebia-se a elegância do casal. Não aquela
elegância formal, de fora para dentro, mas a outra, a conquistada por uma
sólida formação, que à primeira vista não aparece mas emana aos poucos. E, com
o passar dos dias, sutilmente vamos descobrindo o quanto vocês são importantes,
enfeitados por esta elegância, esta sensação de algo mais, que se acrescenta.
Evidentemente
estou referindo ao casal Sonsoles e Iñigo, tão amigos, ele Cônsul, ela Consulesa da Espanha em Porto Alegre.
Suas
participações na vida da Cidade foram num crescendo, pela simpatia, pela
discrição, pela competência, a ponto de conquistar a todos, pessoas e coisas
desta Cidade, desde então marcada por tão queridas presenças, não só na nossa
vida social, mas em nosso desenvolvimento intelectual, artístico e nas relações
dos dois países irmãos.
Sr. Cônsul,
Sra. Consulesa, a Península Ibérica está em nossas raízes, como disse o Ver.
Antonio Hohlfeld, e nós, ibero-americanos ou latino-americanos, nos irmanamos ,
não só na similaridade de nossas línguas, mas também em inúmeros costumes. Um
historiador chegou a publicar um livro chamado “Manoelito de Ornellas - Gaúchos
e Beduínos", tal a influência mourisca em nossas vidas.
A invasão moura
da Península Ibérica, transmitida até nossas raízes, mostra o quanto somos
ligados à Espanha, a sua terra, "tan hermosa", tão cheia de tradições,
de folclore e de vultos que não
são mais da Espanha mas são
patrimônio da humanidade.
Eu e minha esposa estudamos Federico Garcia Lorca,
quando participou de um debate, no fim
de uma peça teatral chamada "Yerma", que formava uma trilogia
teatral juntamente com "Bodas de
Sangue" e "Casa de Bernarda La Alba ", escritos de um
"deus" chamado Federico Garcia Lorca.
Um país que nos
deu Miguel de Cervantes y Saavedra com seus "Sancho Pança e Dom
Quixote", seus moinhos, com personagens psicanalíticos perfeitos; e de lição de vida, que nos deu Lope de
Vega, Miguel de Unamuno, Miró, Goya, Pablo Picasso e seu quadro Guernica. (Guernica é alguma coisa
assim inesquecível na minha vida e na
vida do mundo.) Carlos Gades, este homem que vive com os pés, este bailarino.
(Gades quer dizer Cadiz.) Esta Espanha do Real Madrid, do salero, da tourada,
George Bizet, da Carmem, "habanera"
que não cansamos de ouvir, da Granada "tan llena de linhas mujeres
de sangue y de sol", nos presenteou durante três anos com a presença
inesquecível para nós, de Sonsoles e Iñigo de Palácio de Espana, cidadãos do
mundo.
O Brasil, o Rio
Grande do Sul e Porto Alegra, ficaram mais perto de Espanha, geográfica e
afetivamente.
"Amigos para siempre." Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra.
O SR. REGINALDO PUJOL: (Saúda os componentes da
Mesa e demais presentes) Evidentemente que o Ver. Cláudio Sebenelo, ao nos
antecipar na tribuna, já encaminhou o nosso pronunciamento. S.Exa., com a
extrema sabedoria que só o tempo confere, disse que as pessoas que falam em
segundo ou terceiro lugar numa solenidade como esta, ficam extremamente
favorecidas no desenvolvimento da sua posterior manifestação. Melhor ainda a
situação de quem fica em quarto lugar, e especialmente quando esse quarto substitui, na tribuna, o Ver. Sebenelo que
produziu um dos mais belos pronunciamentos que já tive oportunidade de ouvir
nesta Casa, diretamente proporcional com a bela homenagem que a Casa do povo de
Porto Alegre tributa a este jovem e competente diplomata de Espanha que nós,
porto-alegrense, em especial, e nós gaúchos em geral, tivemos o privilégio de
com ele conviver durante pouco mais de
três anos, mas o suficiente para reconhecer as suas qualidades que o fazem
absolutamente digno dessa tradição que é a cultura espanhola, tão bem gizada
pelo Ver. Sebenelo, espargiu pelo mundo. Eu diria que uma dupla condição
imporia quase que obrigação de vir à tribuna nesta hora, apesar de reconhecer
das minhas limitações, altamente enfatizadas a partir dos belos pronunciamentos
que tivemos oportunidade de ouvir na Casa nesta tarde.
Primeiro, eu
não posso esquecer as minhas origens, como Carlos Reverbel, que hoje se foi,
nascido nas barrancas do Rio Quaraí ao lado do Uruguai. Até os treze anos de
idade o meu linguajar era uma mistura de português com espanhol, o tradicional
“portunhol”, e que, em Quaraí, tem o nome de “brasiguajo.” Segundo, não posso
olvidar minhas origens, também ibéricas. Vejam bem que eu faço questão de
estabelecer a expressão ibérica, porque se dissesse a meu avô Izidro que era
espanhola, a sua alma catalã haveria de protestar.
Nessa dupla
condição, eu acrescento um terceiro ponto, e acho que também é significativo:
em 1993, quando o nosso homenageado foi
designado para o Consulado Geral de Espanha do Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina, uma circunstância, - e Ortega Garcez dizia que somos nós e as nossas
circunstâncias -, muito especial me
transformou provavelmente no primeiro dos Vereadores a ter o privilégio de ver
a alta cultura e, sobretudo, o grande grau de qualificação pessoal de que é
detentor esse diplomata amigo, esse embaixador do Brasil pelo mundo, como bem
previu o Ver. Antonio Hohlfeldt. Logo chegado em Porto Alegre, o meu clube de
serviço Rotary Partenon estabeleceu com o nosso Cônsul um debate extremamente
fecundo, o qual se realizou na Sociedade Espanhola, onde ele teve a
oportunidade de, com o conhecimento
adquirido ao longo das atividades diplomáticas que já havia desenvolvido,
discorrer sobre, veja Ver. Ver. Antônio Hohlfeldt, a nossa felicidade na
concessão dessa honraria, discorreu exatamente sobre Integração Econômica
Regional. Trazendo toda aquela experiência que os espanhóis haviam obtido com a
integração econômica da Europa, trazia algumas luzes que nós, rotarianos,
recebemos naquela oportunidade. Passou o tempo e por felicidade a Câmara de
Vereadores, decide criar um título de Cidadão Integração e, num gesto mais
feliz ainda, por unanimidade, decide entregá-lo a quem efetivamente entrega.
Pessoalmente
sinto-me feliz em ter participado de todos esses momentos, até porque reconheço
que a Exposição de Motivos,- que justificou a concessão desse título, que foi
assinada por todos os Líderes e integrantes da Casa, transformando-se nessa
homenagem da totalidade do Legislativo de Porto Alegre -, nos seus três últimos
trechos, referindo-se “a ação e a
atividade que, a partir de 1º de
agosto de 1993, o Cônsul Geral de Espanha para o Rio Grande do Sul e Santa
Catarina desenvolveu.” Ai, acentua-se que, durante a sua missão em Porto
Alegre, privilegiou o desenvolvimento das relações institucionais, em todos os
níveis do Governo e da sociedade. Priorizou o aprofundamento da cooperação nas
áreas da cultura e da língua espanhola, assim como no âmbito das relações
econômicas e comerciais, enfatizando também outras atividades na arte, na
música, na história, na cultura e na
literatura espanhola.
Diz mais que,
durante a Feira do Livro de Porto Alegre, recolheu e obteve um excelente espaço
de expressão dessa nova fase da presença do Consulado Geral de Espanha na vida
de Porto Alegre. Acentua que a relação com as universidades incrementou-se,
sobretudo, através do intercâmbio entre os Departamento de Língua e Literatura
Espanhola.
E conclui,
dizendo: “o Consulado sob o comando do nosso homenageado serviu de catalisador
dos esforços de empresas espanholas para sua introdução no Rio Grande do Sul e
Santa Catarina, com resultados bastante positivos em vários setores da vida
econômica brasileira.”
Por isso, e tão
somente por isso, acredito que o meu grande amigo e grande vulto da vida
política e social do Rio Grande, Carlos de Britto Velho, se estivesse conosco
nessa hora diria que: "é necessário dar a si o que cujo é". E que
aqueles que não perceberam o significado desse gesto da Câmara de Porto Alegre
precisariam ter um lampejo de inteligência para verificar que quem traz até
esta Casa a Dona Eva Sopher, o Baltazar Iglesias que reúne este cadinho de
manifestações da vida social e cultural de Porto Alegre é a própria integração.
E se nós, num
dos momentos felicíssimos desta Câmara, entendemos que a integração entre os
povos é absolutamente necessária, que nós precisávamos enfatizar este nosso
compromisso com a harmonia entre os vários povos, as várias etnias, as várias
culturas, nós que fomos felizes nesta hora, fomos mais felizes ainda, quando
não só instituímos o título, mas o dignificamos desde o primeiro momento ao
entregarmos a Iñigo de Palácio Espana, como seu primeiro possuidor. Isto é,
aquele que lhe dá o gabarito e sobretudo, a dimensão.
Doravante, este
título, Cidadão Integração, já surge
consagrado diante dos seus objetivos, porque tem a valorizá-lo figura do
nosso homenageado, este jovem diplomata espanhol que esteve conosco três anos,
nos dando a alegria de conviver mais ainda com a nossa gente, com as nossas
raízes da grande Espanha, da Espanha de Cervantes, da Espanha, sobretudo de
homens como ele, que sempre foram precursores na marcha da construção de uma
sociedade mais justa, mais equânime, mais adequada às necessidades do momento
em que elas se apresentam. E o momento de hoje, o momento em que vivem os povos
é o momento da integração. E no momento da integração, nós da Câmara de Porto
Alegre, outorgamos a o Cônsul Iñigo de Palácio Espana de Palácio o título de
Cidadão Integração de Porto Alegre. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Nós ouvimos o Srs. Vereadores que fazem
manifestações em nome de toda as bancadas, de todos os partidos e em nome dos
demais Vereadores que votaram este processo. Já fizemos a saudação em nome da
Casa, agora nós teremos, e eu pessoalmente, dupla satisfação, porque a conheço,
desde que tínhamos 10, 11 anos, em Passo Fundo, de anunciar a Sra. Jane
Pimentel, que vai ocupar a tribuna e
recitar a poesia "Patria Minha", de Vinícius de Moraes.
(A Sra. Jane
Pimentel recita a poesia) (Palmas.)
Temos a
satisfação de anunciar a apresentação do Sr. Washington Goulart que
interpretará as músicas: Fantasia Flamenca de Malageña de Lecuona e Sevilhana
del Adios.
O SR.
WASHINGTON GOULART: Com a licença dos presentes, dos homenageados e das
autoridades oficiais, fui convidado para escolher uma música para homenagear o
nosso Cidadão de Integração o Cônsul Iñigo de Palácio Espana. É uma tarefa
muito honrosa, e um pouco difícil, mas
encontro um comum denominador nesse sentimento. Lembrando que a figura do Iñigo
de Palácio Espana é uma figura que transcende, não só o lado diplomático, mas
do ser humano. Então, em tom um pouco familiar, eu escolhi esta música, porque
acredito que não está indo embora somente um Cônsul-Geral da Espanha, mas um
amigo de todos nós. Por isso, esta música representa um pouco do que as pessoas
sentem quando um amigo vai embora. Como dizem popularmente: “atrás de um grande
homem existe uma grande mulher”, faço uma
citação também à Consulesa Sonsoles de Palácio Espana. É uma música Sevilhana, que tem o nome
"Sevillana del Adios". Nós interpretaremos em tempo de rumba
flamenca.
( Procede-se à
execução da música.)
O SR. PRESIDENTE: O momento mais solene desta Sessão está
chegando. Vamos proceder a entrega do
título ao Cidadão Integração de Porto Alegre, título esse que já começa com
essa qualidade que é muito difícil de ser igualada.
Registramos a
presença também do Ver. Pedro Américo Leal.
Convido o
representante do Sr. Prefeito para, com este Vereador, fazer a entrega do
título ao casal.
(É feita a
entrega do título.) (Palmas.)
Vamos, agora,
conceder a palavra o nosso ilustre
homenageado.
O SR. IÑIGO DE PALÁCIO ESPANA: (Saúda os presentes) Neste
momento quero fazer uma lembrança muito especial a dona Eva Sopher, porque é
uma coincidência muito feliz que, nesta
data, estamos comemorando os 139 anos desse orgulho de Porto Alegre, que é o
Teatro São Pedro. E ainda mais especialmente o nosso Carlos Reverbel, a quem
quero fazer uma saudação muito carinhosa, e à nossa cara Olga Reverbel.
Eu tinha um
"nó" na garganta, e dizia ao
Presidente “ainda bem que na semana passada, fiz um ‘check-up’, e tudo estava
em ordem.” Para quebrar um pouco o gelo, depois de escutar as palavras tão
carinhosas que recebi de V.Exas., Vereadoras e Vereadores, Presidente, queria
dizer ao caro amigo Antonio Hohlfeldt que ele está certo, não sou o primeiro
Cônsul da Espanha que foi homenageado aqui em Porto Alegre. De fato, até filha
de Cônsul da Espanha em Porto Alegre foi homenageada. O nosso caro amigo e
Cônsul-Geral da Argentina, que está aqui conosco, sabe que a protagonista do
tango Malena era, de fato, a filha de um Vice-Cônsul; e, em homenagem a ela,
foi escrito esse tango tão lindo.
Aí comecei a
pensar nas minhas duas filhas. Até pode ser porque olhei a Sonsoles e disse
que, afinal de contas estamos levando tanta coisa, mas o mais importante - e é
importantíssimo porque nunca deixarão de nos lembrar - é que temos duas filhas
com passaporte espanhol, mas com alma gaúcha. Vocês que têm filhos, netos,
sabem o que significa para meninas dessa idade, - e tenho a enorme satisfação
de ter aqui conosco duas das grandes,
magníficas e formidáveis professoras que ajudaram na formação delas -, o quanto
é importante esse tempo da infância, no qual aprendem a conviver com os outros.
Até quero acreditar que são os anos fundamentais para que esse espírito de paz,
que tem o povo brasileiro, que não conhece guerras, conhece apenas conflitos
consigo mesmo - como todos nós temos - mas não conhece essa violência profunda
que é o enfrentamento de uns com outros, e entre povos, e que é o povo da
alegria e do carinho. Espero que elas possam ter levado isso.
E é uma maneira
de homenagear também a Sonsoles. Vou cobrar da Presidência uma coleção de
lenços para podermos chegar ao fim da cerimônia.
As minhas
primeiras palavras quero que sejam de profundo agradecimento pela distinção de Cidadão Integração Cidade
de Porto Alegre que hoje me entrega esta ilustre Câmara Municipal. Estes quatro
anos de convivência, até de estreita relação com muitos de vocês, tem me
ensinado que o povo gaúcho, especialmente os habitantes desta querida Cidade,
são capazes de mostrar, abundantemente, uma das qualidades mais maravilhosa do
ser humano que é a generosidade.
O
reconhecimento que hoje me outorgam vai ser muito importante e querido, para
mim, pois provém dos legítimos representantes do povo. Esta é mais uma das
muitas demonstrações de afeto recebido de todos os setores da vida de Porto
Alegre e que devo entender que não foram só dirigidas a minha pessoa, mas a Espanha, este País que vocês lembraram
nas suas palavras, pois honraram o país que eu represento.
Querido
Presidente, muitos que olham de fora o trabalho dos diplomatas acreditam que
são senhores que simplesmente não trabalham, porque não nos vêem gemendo sob uma carga de ladrilhos. Em
verdade, quando um diplomata diz estar assoberbado pelo peso das suas múltiplas
obrigações, só transmite uma péssima idéia sobre o cumprimento de sua função.
Por isso vai ser muito difícil medir o trabalho que desempenhei e o dever
que tentei cumprir. As palavras sobre mim pronunciadas pelo ilustre Ver. e
amigo Antonio Hohlfeldt, pela Vera. Maria do Rosário, pelo Ver. Reginaldo
Pujol, pelo Presidente, pelo Ver. Cláudio Sebenelo e por todos, que aqui se
manifestaram, me comoveram. Gostaria, sim, de dizer, que sempre quis cumprir o
meu dever, e aqui o fiz com especial prazer e dedicação. Os Senhores cumprem a
missão encomendada por um mandato de representatividade, que tem muito de
sagrado, na medida em que é o próprio povo quem entrega a vocês sua confiança
para ser usada como melhor convenha ao bem comum. Nós, funcionários públicos, de
qualquer nível que sejamos, deveríamos assumir como uma responsabilidade: a de
adquirir em nosso trabalho, cada dia a
representatividade daqueles que não nos elegeram, mas cujo bem comum devemos
pretender, assim como o interesse nacional. O primeiro e o segundo são
inseparáveis. Infelizmente, às vezes se esquece o bem particular daqueles que
deveríamos representar, colocando o esforço unicamente na preservação de um
difuso interesse nacional. Na vida diplomática isso é freqüente, até o ponto em
que o amor à patria chega a convencer a mais de um que a lua de seu povoado
ilumina mais que o sol estrangeiro.
Sempre estive
convencido de que o trabalho voltado ao atendimento dos interesses de meus
patrícios e aos interesses nacionais era a mesma coisa e, o que é mais
importante, que quando trabalhava no que aparentemente era do interesse do Rio
Grande do Sul e de Porto Alegre, fosse no relacionamento político, cultural,
social ou econômico, em verdade era do nosso interesse comum. Trabalhar junto
com vocês e para os interesses da sua comunidade, era uma das melhores
contribuições para a defesa dos nossos interesses e os da Espanha, e para o
legítimo orgulho e satisfação dos espanhóis que aqui foram acolhidos de braços
abertos e aqui moram. E muitos deles tiveram a gentileza de nos acompanhar,
hoje, junto com vocês.
Esse e não
outro seja, quiçá, o verdadeiro sentido do espírito de integração que quis
imprimir ao meu trabalho. No espaço de quatro anos a imagem da Espanha aqui
mudou consideravelmente. Produziram-se intercâmbios, visitas, fizeram-se
programações culturais conjuntas - aproveito para em nome de Washington Goulart
e da Editora Andaluz, entregar para esta Câmara algumas das obras que nós
tivemos a honra e a possibilidade de promover, em conjunto, para o bem da
cultura de Porto Alegre - executaram-se projetos e fecharam-se negócios. Mas,
em resumo, o mais importante é que a Espanha e os espanhóis foram vistos como
parceiros e amigos, e isso criou um sentimento de integração, de simpatia pelas
nossas respectivas realidades e, por isso mesmo, de respeito mútuo.
O conceito de
integração é hoje uma idéia central no desenvolvimento das relações
internacionais. Os ensaios se sucedem, porém sempre se comprova que os povos
que mantêm laços de comunidade histórica se inclinam mais pela construção
conjunta de seus destinos político, social e economicos. O Brasil, que faz
parte dessa comunidade histórica ibero-americana, tem definitivamente resolvido
instalar-se na sua essência histórica que é, como disse com sentimento de
admiração Gilberto Freyre, a mais ibérica de todas por ser, precisamente,
duplamente ibérica. Seu novo relacionamento com as repúblicas irmãs de
Ibero-América e a liderança junto com outros, do processo de integração do
Mercosul o testemunham. Porto Alegre, nessa onda, tem sabido aproveitar as
oportunidades e tem assim liderado importantes movimentos municipais de
integração na região, o que diz muito da visão histórica de seus políticos, aos
quais aproveito para parabenizar, em primeiro lugar, o nosso representante da
Prefeitura José Eduardo que conhece bem o movimento conjunto das forças
políticas representadas nesta Câmara Municipal e que tem colocado Porto Alegre
num lugar muito importante na região sul do Continente Ibero-Americano.
A Espanha,
felizmente superados os antagonismos históricos, tem-se voltado também para o desenvolvimento de
suas raízes americanas. A presença espanhola neste continente hoje não tem nada
de fortuito; é deliberada opção nacional e estratégica para encontrar nosso
lugar no seio da comunidade histórica à qual pertencemos e com a qual queremos
construir um futuro.
Na defesa
desses princípios tentei conduzir meus esforços, encontrando em vocês amigos
sempre fiéis e cooperadores, aliados, atentos ao desenvolvimento das relações com
a Espanha e com suas instituições. Em definitivo, os afetos nem se escondem,
nem podem se fingir por muito tempo e, naturalmente, são recíprocos.
Quero,
concluindo, expressar meu agradecimento a todos e a cada um dos amigos que aqui
fiz e que hoje tiveram a gentileza de nos acompanhar neste ato de amizade e de
carinho, e, na pessoa de V.Exa., querido Presidente, render este penúltimo
tributo de gratidão à Câmara Municipal e à Cidade de Porto Alegre, da qual
tenho a satisfação de possuir a Medalha de honra, que me foi entregue pelo caro
Amigo Prefeito Raul Pont, e agora esta
inesquecível homenagem. Também meu tributo
de admiração, especialmente como servidores da sociedade que vocês são,
com a competência, que já é marca do político gaúcho na política brasileira,
durante muitas e muitas décadas,
desejar-lhes um futuro cheio de realizações na construção da cidadania,
do progresso, da paz social e da amizade com nações, como a Espanha, da qual já
ganharam, através de mim, a admiração, o reconhecimento e o respeito.
Como vocês
dizem, simplesmente “valeu”. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Na Espanha ouço meu filho, que está lá há 3
anos, dizer “valeu.” Diz muito isso. Queria pedir um último obséquio a este
novo 1º Cidadão Integração de Porto Alegre: dê um abraço no Chaco. Gostaria de dizer que poucos minutos
antes de chegar no Plenário, por uma coincidência muito grande falei com ele,
em Barcelona, pediu que lhe transmitisse um abraço também. "Valeu".
Ao mesmo tempo
queria dizer que teremos a execução do Hino Rio-Grandense, mas antes disso faço
uma última colocação: "No te vayas todavia".
(Procede-se à
execução do Hino Rio-Grandense.)
Nossos
agradecimentos a todos os Senhores e Senhoras que estiveram aqui prestigiando
esta Sessão Solene. Nosso agradecimento a Jane Pimentel e a Washington
Goulart. Nosso abraço fraterno, já com
saudades, ao casal homenageado.
Está encerrada
a Sessão.
(Encerra-se
a Sessão às 16h49min.)
* * * * *